Do estrelato ao ostracismo: a carreira meteórica de Klaus Nomi

Texto por Raquel S. Ramos

Rolando o feed do youtube, uma thumb gritou por atenção. Como o frasco que Alice (no País das Maravilhas) pedia “beba-me”, aquele vídeo pedia: “assista-me”. Se tratava do clipe de “Falling In Love Again”, cantado pela voz encantadora de um homem trajado de forma caricata e icônica. Assim eu conheci Klaus Nomi, pesadamente maquiado, com um penteado no mínimo excêntrico e vestido numa espécie de smoking cartunesco. Fiquei obcecada.


E assim comecei minha trajetória para descobrir mais sobre aquela figura tão chamativa e magnífica. A rápida olhada na Wikipédia não foi suficiente, mas, um vídeo do canal Sociocrônica me entregou até mais do que eu esperava sobre a vida e obra deste artista. E é sobre isto que vocês vão ler a seguir.

Nascido Klaus Sperber, em 1944, o cantor alemão era contratenor. Começou a cantar enquanto trabalhava como atendente na ópera Berlim (Deutsche Oper) e logo passou a se apresentar na discoteca gay Casino Kleist. Na década de 70 mudou-se para Nova York, onde performou no reduto underground Irving Plaza. Esta apresentação histórica lhe rendeu diversos trabalhos, inclusive o de backing vocal para David Bowie no programa de TV Satuday Night Live.

À partir daí sua carreira disparou. Conseguiu um contrato com a gravadora RCA, teve seu primeiro disco (Klaus Nomi, 1981)) esgotado em apenas oito dias. E, ainda que diante das adaptações exigidas pela gravadora para que o trabalho se tornasse mais comercial, teve uma turnê mundial de sucesso. O segundo álbum (Simple Man, 1982), por sua vez, carregou todo o conceito gótico e futurístico que misturava ópera barroca e O Mágico de Oz, com uma estética inspirada na escola artística Bauhaus e no ballet Triádico de Oskar Schlemmer. Os shows misturavam música clássica, cheia de falsetes, com pop, e uma pitada de dramaticidade ao estilo do teatro japonês Kabuki.


O que parecia ser uma carreira promissora foi, entretanto, interrompida em 1983, aos 39 anos, quando o artista faleceu vítima de uma doença ainda quase desconhecida na época: a AIDS. Klaus Nomi foi uma das primeiras celebridades a ser levada pela doença, que, cercada por preconceitos e tabus, tornava os doentes não apenas vítimas de um vírus sem cura, mas completamente desprezados e invisibilizados pela sociedade. Assim, o cantor foi relegado ao ostracismo.

Além dos dois álbuns de estúdio existe uma porção de álbuns póstumos e compilações de performances ao vivo disponíveis em plataformas como Spotify e Youtube. Em 2004, o documentário The Nomi Song (disponível em inglês com legendas em alemão no youtube) celebrou sua rápida carreira, juntando depoimentos e riquíssimos registros dentre fotos promocionais e cortes de shows. Ainda assim, Klaus segue quase que esquecido, devido ao apagamento que sofreu como resultado de sua doença.


Apesar de encantada com a música, a estética, a performance, a voz… tudo em volta de Klaus Nomi, conhecê-lo não deixa de carregar um pesar. Me peguei pensando que para cada artista Queer (principalmente o soropositivo) que conseguiu uma carreira que ultrapassou as barreiras do preconceito, nós não temos nem noção de quantos morreram esquecidos. Me entristece conhecer Nomi estando eu com mais de 30 anos e pensar que tanta gente desconhece completamente sua existência, assim como eu ignorava até uma semana atrás.

A ânsia de saber mais sobre Klaus Nomi se transformou em ânsia para mostrar o trabalho dele para o máximo de pessoas que eu conseguir. Me pôs em frente a um computador às 4 da manhã, pesquisando e escrevendo, cada vez mais fascinada, e doida pra espalhar esta história.

Arte de Raquel S. Ramos



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