DICA LITERÁRIA | O Sonho da Sultana, de Roquia Sakhawat Hussain

 Imagine uma sociedade onde os papéis designados aos homens fossem exercidos por mulheres, e os papéis designados a mulheres, fossem exercidos por homens.
No que resultaria? Como viveria essa sociedade? Que progresso traria para ambos os gêneros? Estas são questões que deveriam ser levantadas com mais frequência.

Roquia Sakhawat Hussain

O Sonho da Sultana (no original, "Sultana's Dream), é um conto escrito no início do século XX pela indiana Roquia Sakhawat Hussain e publicado originalmente na revista The Indian Ladies Magazine of Madras, em 1905. É considerado uma das primeiras ficções científicas a abordar feminismo e direito das mulheres a igualdade. Como foi publicado a mais de 70 anos, o conto entrou em domínio público, e sendo uma obra pouco conhecida, embora importante e nunca traduzida para o português, o projeto Universo Desconstruído, que visa trazer ficção científica que quebre estereótipos que recaem sobre as mulheres e sobre o feminismo, traduziu e editou esta obra em e-book. A edição é disponibilizada gratuitamente para download (aqui no site do projeto), nos formatos PDF, EPUB e MOBI. Mas se você quiser impresso, também pode obtê-lo (mais informações no site). Possui pouco mais de 20 páginas, mas tem muito mais a passar do que vários livro acima de 200 páginas por aí.

Imagem da versão teatral exibida no festival de teatro de Dacca -Dakha Hay, em Bangla-desh, com direção de Naila Azad Nupur
A história é narrada por uma sultana, cujo nome não é revelado, que nos conta um incrível sonho que teve quando adormeceu pensando em sua condição como mulher muçulmana.
Em seu sonho, ela é levada a uma Índia utópica, onde no lugar de homens, mulheres tomam as ruas e exercem todo o tipo de função social, enquanto os homens ficam em casa e exercem as funções doméstica. Mas não do modo comum como você deve estar acostumado a ver. Nas culturas hindu muçulmana, as mulheres são mantidas no zenana, uma parte da casa designada para elas, separada do mardana, a parte designada aos homens e as visitas. Elas literalmente ficam presas em casa.

" - Por que vocês se deixam trancafiar?
 - Porque não podemos nos ajudar se eles são mais fortes que as mulheres.
 - Um leão é mais forte que um homem, mas isso não permite que ele domine a raça humana. Vocês tem negligenciado os direitos que devem a si próprias. Perderam seus direitos naturais, fechando os olhos aos seus próprios interesses."

Como já sabemos, militarismo, descendente da hostilidade primitiva, sempre (embora haja algumas mulheres envolvidas) foi algo feito por homens. O que se resultou em várias guerras, coisa que você também já sabe. Mas e se, em vez de homens, mulheres fossem designadas a resolver conflitos? Teriam o mesmo instinto hostil?
A autora aborda muito bem essa questão mostrando os motivos pelo qual a terra, antes semelhante ao desvirtuoso lar da sultana, tornou-se a utópica Terra D’Elas.

"Enquanto as mulheres estavam envolvidas em pesquisa científica, os homens deste país estavam ocupados aumentando seu poderio militar. Quando eles souberam que as universidades femininas eram capazes de tirar água da atmosfera e de coletar a luz do sol, eles gargalharam, chamando a coisa toda de 'um pesadelo sentimental'!"

Tendo a rainha do lugar investido em educação para as mulheres, elas se tornaram uma população de pessoas super educadas e inteligentes. Além de terem desenvolvido tecnologias renováveis e sustentáveis, cuidam muito bem do lugar onde vivem. As ruas e as casas são extremamente limpas e encantadoras. Também não há conflitos, nem confusões, assassinatos, ou roubos.

"Nós não temos tempo para brigar uns com os outros já que nunca estamos parados."

Arte do ilustrador francês Vilemard
Nesta obra, Roquia nos mostra todos os erros cometidos em toda a história da humanidade, por inferiorizar o sexo feminino, e o quanto poderíamos ser pessoas melhores, tomando os excelentes exemplos destas mulheres, e assim também tornar o lugar onde vivemos, muito melhor.
É um ótimo conto,  rápido de se ler, nos ensina bastante, e até daria um bom filme.

Leia, indique, espalhe. O Sonho da Sultana merece e precisa chegar ao máximo de pessoas possíveis. Principalmente as que possuem pensamentos semelhantes aos homens da história.

Capa da versão brasileira, por Aline Valek

NOTA: Cinco Unis

Comentários

  1. Que resenha ótima! Muito obrigada!

    E adorei seu sistema de classificação. 💛

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que agradeço por ter trazido esse conto.
      E que bom que gostou da Uni. 💛

      Abraços.

      Excluir
  2. Bom dia!
    Adorei a resenha! Faço parte de uma editora e gostaríamos de reproduzir sua resenha em um dos volumes de nosso material didático de Língua Portuguesa. Há algum email pelo qual podemos conversar melhor?
    Muio obrigada,
    Nathalia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. EITA!!
      Fico feliz que você gostou e me sinto honrado.
      Meu e-mail é magdielemail137@gmail.com

      Excluir
    2. Que ótimo!!! Obrigada pela resposta. Acabei de enviar uma mensagem para seu e-mail!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas