CONTO | Doctor Who: A Galáxia na Ponta do Universo
— Qualquer parte do tempo e qualquer lugar do espaço. Onde gostaria de ir?
Cada palavra da frase dita pelo Doutor provocava uma sensação semelhante a um susto, surpresa ou qualquer coisa que faria Ana dizer em voz alta algo como: O que? Outra vez? Eu quero ir pra casa. Você tá falando sério?
Porém Ana ainda estava atordoada demais para isso. Já havia se familiarizado em saber que existe vida fora da terra, pessoas que viajam no tempo, pessoas que viajam no espaço e que cabines da polícia britânica dos anos 60 podem ser maiores por dentro do que por fora. Só não estava familiarizada ainda em vivenciar tudo isso. Em meio aos sentimentos estranhos que sentia no momento, o que acabou dizendo foi:
— Eu não sei, é tanto lugar.
— E qual deles você mais gostaria de ir?
— Ir para uma galáxia bem distante — respondeu rápido querendo ter dito algo diferente.
— Pode haver qualquer coisa em uma galáxia bem distante. Incluindo coisas desagradáveis — disse o Doutor olhando para ela com um sorriso ao mesmo tempo amedrontador e revigorante.
— Não tenho medo — respondeu Ana e pensou consigo mesma: Eu acho.
— Vamos ver como se sairá — o Doutor a lançou um olhar penetrante enquanto dizia. Ana devolveu o mesmo olhar dizendo:
— Okay!
O Doutor puxou uma alavanca no console da TARDIS.
— O desconhecido nos espera — disse ele.
A TARDIS começou a tremer e Ana quase caiu no chão com a turbulência. O barulho que ela emitia já estava começando a lhe soar agradável até que uma pequena fumaça começou a sair do console.
— Está ficando instável. É como se estivéssemos indo a um vulcão — disse o Doutor manuseando seu veículo de forma que fez Ana mudar todo o seu conceito de como se imaginava pilotar uma nave espacial.
A TARDIS ficou calma e a fumaça parou.
— Onde estamos? — Perguntou a garota. O Doutor puxou o visor para olhar.
— É um stimpografus — disse ele com uma expressão entusiasmada.
— E o que é isso? — Perguntou Ana. O Doutor olhou para ela com um entusiasmo assustador e respondeu:
— É um buraco negro que retrocedeu o próprio tempo. Ele virou uma estrela e depois se extinguiu novamente. Está funcionando como um imã — o Doutor fez uma pausa.
— Está atraindo sóis! — Continuou ele. Ana ficou espantada. A TARDIS voltou a tremer.
— Fomos pegos por alguma coisa — disse o Doutor manuseando o console e olhando o visor. Ana ficou assustada.
— Pegos? O que nos pegou? — Perguntou ela. O Doutor então a olhou sorrindo e disse:
— Vamos descobrir.
Foi em direção à porta da TARDIS. Ana o seguiu. Ao abrir, o Doutor não se decepcionou por não ser algo incrível de se presenciar.
— É uma nave de resgate fituziana. Os fituzius são a raça encarregada pela segurança dessa galáxia — disse o Doutor olhando em volta da nave e depois para Ana.
— Estamos em Lahor! É uma galáxia lendária — o Doutor começa a andar pelo corredor e a garota o segue — ouvi quando era criança... Que um mal terrível conseguiu sozinho banir a galáxia inteira para uma órbita na ponta do universo. E que aos poucos ela está retornando. Em espiral. Direto ao centro.
— E a quanto tempo será que ela está retornando?
— Desde a infância do universo.
Ana ficou impressionada. De repente aparece um fituziano.
— O que estão fazendo aqui? Quantos de vocês vieram? — Perguntou ele. Estava portando uma arma aparentemente grande. Para surpresa de Ana, ele tinha uma aparência meramente humana, e não parecia um alien estranho, como imaginou ao ouvir o nome fituziano.
— Vocês só trazem desordem por onde passam! — Continuou ele. Ana começa a ficar com medo e vai para trás do Doutor, que disse em voz baixa que estava tudo bem.
— Estamos aqui por acaso. Somos só nós dois — disse o Doutor.
— Vejo em suas auras que não são ameaças. E que ela, não é um deles — disse o fituziano apontando para Ana.
— Um deles? — Perguntou ela.
— Senhores do tempo! — Respondeu o fituziano — você é um deles, não é? Ouvi que os Daleks extinguiram todos eles.
— Não foram os Daleks... E na verdade, Gallifrey está perdida...— Respondeu o Doutor com um tom de receio.
— Doutor, como sabem que eu não sou como você? — Sussurrou Ana.
— Os fituzianos leem as áureas de todos cujo podem ver. E enxergam a fisiologia também — respondeu o Doutor.
— Precisam sair daqui — disse o fituziano.
— Por quê? — Perguntou Ana.
— Um sol pode passar por nós e destruir esta nave a qualquer momento. Se arriscar é nosso trabalho, não de vocês, então vão embora. E não digam a ninguém sobre Lahor. Agora vão!
— Doutor, não podemos deixar eles morrerem — disse Ana
— Não é nosso trabalho. Não vamos interferir — respondeu o Doutor.
Voltaram a TARDIS. O Doutor fechou a porta, se virou e riu para Ana.
— Não mesmo!
— Okay! Não terei mais uma ideia dessas — disse Ana, se sentindo culpada.
— O que? Adoro suas ideias! Agora vamos salvar aquelas pessoas! — Começou a manusear o console da TARDIS.
— Mas você disse que... — Ana começou a sorrir.
— Não prometi nada — fez uma pausa — chegamos.
— O que faremos?
— Falaremos com o conselho do comando fituziano. Vamos tentar convencê-los a tirar a nave daquela área. O que acha?
— Perfeito!
Na sala do conselho ocorria uma reunião. Ana já ia em direção a porta quando o Doutor segura seu ombro.
— Espere! Podemos entrar sem sermos notados. É mais legal — tirou sua chave de fenda Sônica do bolso.
Lá dentro, a reunião continuava.
— ...Os sóis passam por qualquer lugar, devemos drenar um caminho alternativo usando magnetismo estático— disse alguém em pé.
— Levaria séculos! — Disse outro sentado.
— Poderiam evacuar os planetas da galáxia — disse o Doutor.
Então todos olham e lá estavam Ana e o Doutor sentados a mesa. Ficaram surpresos e sem entender como não perceberam sua chegada.
— Quem é você? — Pergunta o que estava em pé.
— Olá! Eu sou Doutor! E esta é...
— É um senhor do tempo! — Disse um deles.
— Esqueçam os senhores do tempo, não estou com eles — disse o Doutor — sua galáxia tem minas de matéria escura. Porque não usam para fechar o buraco negro?
— Podem confiar em nós — disse Ana.
— Sabemos que são confiáveis! — disse o que estava em pé — mas não podemos destruir o buraco negro. Ele nos protege.
— De que? — Perguntou o Doutor.
— Do resto do universo — respondeu ele — com exceção de vocês, ninguém vem a Lahor. Os que vieram foram queimados.
— Estão se escondendo? O que é tão ameaçador que os fazem mais seguros em meio a sóis desgovernados? — Perguntou o Doutor. Todos pareciam tensos.
— Daleks!
— Mas vocês são a maior guarda do universo, se continuarem assim, a galáxia inteira irá morrer!
— É melhor morrer do que entrar em caos eterno ao confrontar os Daleks. Lembre-se do que aconteceu ao seu povo.
— Eu salvei o meu povo. Posso ajudar vocês também.
— Não queremos a ajuda de um senhor do tempo!
— Preferem sacrificar toda uma galáxia aos poucos? Sabiam que uma nave base de resgate está orbitando o buraco negro agora e podem morrer a qualquer momento?
— Se ofereceram para este trabalho. O que acontecer, é responsabilidade deles. E vocês dois estão em área restrita sem permissão. Vão embora agora ou serão presos.
O Doutor se levanta da cadeira — vamos Ana! — Ela o seguiu sem entender, pois acreditava que o Doutor não desistiria tão fácil.
Os dois voltaram para a TARDIS.
— O que pretende fazer doutor?
— Podemos salvar aquela nave e ainda o resto da galáxia.
— Você sempre tem uma saída não tem?
— Na verdade, eles mesmos possuem a saída. Só iremos usar contra a vontade deles.
— Como assim?
— Lembra... — Tudo começa a tremer, levando Ana e o Doutor a chão.
— A TARDIS ficou instável novamente — Disse o Doutor se levantando em direção ao console.
— O que está acontecendo? — Perguntou Ana.
— Um sol esta vindo em nossa direção.
Ana começa a ficar com medo e um pavoroso estrondo os derruba novamente.
— Fomos pegos pela nave outra vez — disse o Doutor com um sorriso sarcástico.
Ao saírem da TARDIS, encontram com o mesmo fituziano que encontrara antes, acompanhado de outros que estavam armados.
— O que fazem aqui outra vez? — Perguntou o fituziano.
— Fomos puxados para cá — respondeu Ana.
— Sua nave vai colidir com um sol! Precisam sair daqui — disse o Doutor.
— Temos um trabalho a cumprir! — Respondeu o fituziano.
— Se não saírem daqui todos irão morrer... — Estava dizendo o Doutor quando parte da nave começou a explodir.
— Doutor! — Gritou Ana.
— Os reatores queimaram, senhor! Perdemos o controle da nave — disse o piloto que venho correndo direto da ponte.
— Todos para a TARDIS! Rápido! — Disse o Doutor.
A nave continuou explodindo quando então virou para o lado e todos caíram. A TARDIS se encontrava deitada com as portas para cima. Cada uma das pessoas a bordo estavam distantes uma da outra. O Doutor gritou por Ana.
— Doutor! Ajude-me! — Gritou ela desesperada. As explosões continuaram. A TARDIS foi lançada para o teto. Ana continuava a gritar por ajuda. Estava tentando se levantar mas era derrubada novamente ao chão. O Doutor estava afastando pedaços da nave para alcançá-la. Os fituzianos tentavam tapar os buracos abertos para o espaço. A TARDIS lançada ao alto por uma explosão, iria cair bem em cima de Ana com o lado das portas virados para ela.
— Ana! Estale os dedos! — Gritou o Doutor.
Sem hesitar, Ana estalou os dedos e as portas da TARDIS se abriram. Ao cair em cima dela, a levou para dentro. Enquanto isso, o Doutor estava ajudando a tripulação da nave a não sair pelos buracos que estavam abertos. Sem conhecimento, Ana começou a mexer no console da TARDIS, e ela se levantou de forma que deixou o Doutor impressionado ao presenciar a cena. Ele estava tentando alcançar enquanto a nave o jogava para os lados. A TARDIS estava imóvel. Ana apareceu na porta.
— Pegue a minha mão! — Disse ela estendendo a mão em direção ao Doutor.
Ele pediu para que as pessoas o segurassem e conseguiu alcançar a mão de Ana. Com um tremendo esforço ela conseguiu puxar. Assim que o Doutor pôs os pés na TARDIS, ela o soltou e caiu para trás. Felizmente o Doutor se ergueu em pé e puxou os demais. Ele conduziu a TARDIS até o planeta Fituzius. Ao abrirem as portas, todo o lugar estava destruído. Ficaram surpresos. O fituziano que presidia a reunião cujo o Doutor havia invadido apareceu em meio aos destroços.
— Uma tempestade solar explodiu todos os reatores de energia do planeta. Estamos todos mortos. Um sol se aproxima — disse ele.
Um clarão tomou conta do céu. Do espaço era possível ver um planeta sendo desintegrado enquanto colidia com um sol. Em seguida a TARDIS sai de Fituzius.
O Doutor pousa em um planeta próximo.
— Com os membros do conselho mortos, assumimos a responsabilidade agora. Faremos uma evacuação na galáxia. Só nos diga para onde ir — disse um dos fituzianos que estavam a bordo.
— Não precisa. Você tem minas de matéria escura, não tem? — Perguntou o Doutor.
— Mas levaria eras para a substância consumir o buraco negro. Mesmo lançando o planeta contra ele — respondeu.
— Esqueceu que sou um senhor do tempo?
A TARDIS então voltou ao mesmo ponto onde estavam porém a cinco milhões de anos atrás. Ana sentia que nada na vida a surpreenderia mais que aquilo.
— Obrigado Doutor. Agora vamos liderar uma missão para evacuar o planeta-mina e lançá-lo ao buraco negro. Estaremos desprotegidos, mas quem sabe o que nos espera no centro do universo? — Disse o fituziano saindo da TARDIS com os outros — e Doutor! — Continuou ele sorrindo — lembre-se de que não o queremos em nossa galáxia outra vez.
O Doutor sorriu de volta. A TARDIS então foi desaparecendo lentamente a vista de todos enquanto o planeta florescia esperança.
— Se esconder e não enfrentar o medo os levaria a própria destruição. Ana, do que você tem medo? — Perguntou o Doutor.
— Da solidão.
— E tem sentido esse medo ultimamente?
— Talvez.
O Doutor sorriu para ela.
— O universo é imenso e solitário. Nós vivemos nele. O que não quer dizer que não podemos contrariá-lo.
Ana sorriu. E naquele momento, não queria acreditar que pela primeira vez na vida estava se sentindo, de alguma forma, feliz.
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