As origens mitológicas da Atlântida

Provavelmente em algum momento da sua vida, você já deve ter ouvido falar na Atlântida. Os mais novos devem conhece-la da forma como é mais retratada, uma cidade submarina. Na verdade, segundo várias lendas, a Atlântida foi um continente, ou uma grande ilha, localizada entre a América e a África (a isso se deve o nome do Oceano Atlântico). Em uma época extremamente remota, a Atlântida teria sido afundada e perdida para sempre, por isso muitos escritores a retratam como uma cidade submarina. Alguma lendas que falam sobre a Atlântida antes de ser submersa, a descrevem como uma grande civilização pertencente a uma "idade de ouro" da humanidade. Outras lendas usam o termo "antiga sabedoria" para se referir ao esplendor do que pode ter sido um povo que viveu antes da história humana conhecida.

Arte de Joseph M. Gandy (1771-1843)

Na mitologia grega existem mitos, como os narrados por Hesíodo (século VIII A.C), que falam sobre uma "raça de ouro" que surgiu antes dos deuses. Não obedeciam, não se preocupavam, não tinham governo, e sempre eram presenteados pela natureza com comida. Entre eles vivia Astréia, a deusa da Justiça. Mas o danado do Zeus tomou o poder dela e destruiu a Atlântida. Posteriormente, Prometeu (que foi castigado por Zeus depois) ensinou as artes da vida para uma raça inferior, a humana.

No Hinduísmo houve uma era de ouro chamada Krita Yuga, também ocorrida em tempos remotos. Durante ela viviam sábios seres virtuosos que cumpriam as leis internas da natureza. Haviam sete 'rishis', sábios ou profetas semi-divinos descritos como "seres misteriosos relacionados a origem da humanidade e do conhecimento". No Bhagavad Gita (livro sagrado dos hindus), Krishna, o deus supremo, nos conta como criou os rishis e ensinou uma ioga eterna, que depois de muito tempo foi esquecida. Esse esquecimento causou a queda da antiga sabedoria e o declínio do mundo.

Os babilônicos atribuem o nascimento da civilização aos sete sábios que fundaram as cidades antigas. Tipo os rishis do Hinduísmo. Nesse caso também ouve estagnação, e por conta disso os tempos de vida se encurtaram.

Segundo o poeta cristão Dante Alighieri (famoso autor de A Divina Comédia), esses mitos tem suas raízes no Jardim do Éden, lugar onde, na tradição Judaico-cristã, vivia a humanidade antes da "queda". O teólogo São Tomás de Aquino acreditava que se a humanidade não tivesse caído, ela seria muito mais feliz e sábia. E se Adão e Eva não tivessem perdido sua imortalidade, passariam seus conhecimentos aos seus descendentes. Já Erich Von Daniken, foi o primeiro a teorizar que tal conhecimento superior perdido viesse de visitantes do espaço.

Voltando a mitologia grega, o poeta Homero nos conta sobre a Planície dos Elísios no extremo do mundo. Um lugar onde não neva, não chove, não sopram ventos fortes, e os favoritos dos deuses desfrutam de uma imortalidade sem aborrecimentos. Outras lendas gregas falam sobre a ilhas dos bem-aventurados e ilhas afortunadas, localizadas ao oeste do outro lado do oceano.


Arte de Carl Laubin (1987)

Na Irlanda existem várias histórias sobre viagens. Algumas delas também falam sobre ilhas bem-aventuradas, sem dor, sem morte e tudo mais. Existe até um Elísio celta chamado Mag Mon. Mas de ilha mesmo, tinha o arquipélago de Tir na nOg (ou "terra da juventude eterna"), onde passaram a morar os Tuatha de Danann (panteão de deuses celtas) depois de deixarem a Irlanda. São Brandão, o monge que mais deve ter viajado na história, e que saía espalhando por aí que existiam monstros marinhos, fala em seu grande livro de viagens sobre um outro monge chamado Barinto. Seu Barinto teria navegado até o oeste e chegado às portas do paraíso. Daí Brandão foi atrás para ver se também encontrava, e depois de semanas navegando, descobriu uma mistura de ilhas atlânticas que chamou de "território santificado". Inclusive acredita-se que Dante Alighieri se inspirou nestas informações para bolar umas localizações em seu livro.

Quinhentos anos depois, William Blake, pintor e poeta, começa a misturar algumas lendas celtas e gregas, fazendo ligações entre Atlas, titã grego afundado no oceano, e Albião, gigante que dominava a ilha de Bretanha (Atlântida inclusive significa "Filha de Atlas" em grego). Para Blake, os dois personagens eram a mesma pessoa, e a Britânia seria a fonte do conhecimento universal onde os gigantes tinha um intelecto "gigante". E o que acontece? Sim, você já deve imaginar. "Atlasalbião" leva uma "queda", e os poderosos gigantes se transformaram em velhos e acabados druidas.

"Nas vastas montanhas umbrosas entre a América e Albião, sepultadas sob o Atlântico, as montanhas da Atlântida, assim chamadas porque desde os seus cumes se acede ao mundo de ouro, ergue as duas torres imortais um palácio ancestral, arquétipo de poderosos impérios."

Na época de Blake ninguém ligou muito, mas posteriormente isso foi o ponta pé inicial para a Atlântida ser explorada por autores como Helena Blavatski, Ignatius Donnely, H. G. Wells, e diversos outros até os dias atuais.





Referência:

ASHE, Geoffrey. A Atlântida. Rio de Janeiro: Edições Delprado, 1996

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