A ATITUDE PUNK DA DEMONIA: ENTREVISTA COM NANDA


DEMONIA é uma banda potiguar de punk rock já conhecida no underground nacional pelos excelentes singles e EPs lançados desde 2018.

Por conta das várias mudanças na formação, o ex-quinteto, agora consolidado como um trio, lançou em março de 2024 seu primeiro album, o "atitude punk vol.1". O album que foi gravado por Nanda na guitarra, Quel na bateria e Karla no baixo, era aguardado desde 2019. Nesse meio tempo, Quel e Karla deixaram a banda, mas participaram da gravação e do lançamento.

Nessa entrevista conversei com Nanda sobre a história da banda, o novo album, a nova formação e o futuro da Demonia.


Capa do atitude punk vol.1.
Arte de Consuelo Véa Coroca


137: Como surgiu a ideia da banda?

Nanda: A ideia da banda surgiu em 2017 a partir da ex-integrante Karina, que juntou várias mulheres que ela conhecia da cena de Natalense para formar uma banda. Aceitei de primeira, pois pra mim sempre foi um sonho ter uma banda protagonizada por mulheres.

137: E como foi o rolê da constante saída de integrantes?

Nanda: Na minha visão, a demonia foi se tornando uma persona que não se prende à formação ou às integrantes da banda. Foi um movimento muito intenso e rápido, a maneira como as pessoas da nossa cidade abraçaram a banda, fortalecendo pra que a gente pudesse existir de maneira sustentável. Nunca tivemos dinheiro para investir na banda, todo investimento financeiro que fizemos foi com ajuda de nossos amigues e fãs que desde o começo botaram fé no nosso trabalho. Essa conquista de público se expandiu para o nordeste, principalmente em Pernambuco, onde fomos super abraçadas também. Até nossa chegada em SP em 2019 para gravar nosso primeiro EP com a Flecha Discos e para uma tour que seguiu para BSB e Goiânia. O EP saiu em novembro desse mesmo ano e acredito que ele tenha sido um marco para nós da primeira formação da banda, que ralamos tanto para fazer nosso corre acontecer dessa forma, com apenas 3 anos de banda. Em 2020 com a pandemia, cada uma foi tomando novos rumos profissionais e pessoais que levaram à saída de Karina e Gracinha da banda. Continuamos como um power trio em 2022 e 2023 carregando as músicas antigas e compondo novas freneticamente. Agora em 2024 as integrantes Karla e Quel também deixaram a banda por motivos pessoais, profissional e de saúde delas.
Elas também são mais velhas na cena, vivenciaram muita história na música e acredito que o cansaço de dar o sangue pela banda pesou. A saída de todas, pra mim pessoalmente, foi triste, são quase 7 anos de banda, e é normal a gente se apegar à história. A mixtape "Atitude Punk" vai ser o último lançamento com a formação inicial. Algo que tomo pra vida é sempre tentar entender a nossa constante mudança, os fechamentos e inícios de ciclos. Como disse no começo, a demonia se tornou uma persona que é maior que nós como integrantes, realmente a banda criou um próprio movimento de vida e expansão, e vai continuar até quando nos for permitido.


Formação quinteto: Nanda, Quel, Karina, Karla e Gracinha (2017-2020)
Foto de  Luana Thayze


137: Atitude Punk no caso é o novo lançamento, né? Como foi o processo de composição dele?

Nanda: Isso, o nome do álbum será atitude punk vol.1, será em formato de mixtape. Após a saída das meninas da banda, decidimos que faríamos um álbum. E todas ficaram encarregadas de fazer músicas em casa. A gente mandava demos e a letra, e aí nos encontrávamos pra definir melhor a música, ensaiar etc. E em casa eu gravava umas demos com bateria e guitarra pra gente ouvir melhor a criação. Não partimos de um conceito, apenas começamos a compor. As nossas vivências individuais e de banda. Foi o ponta pé pra maioria das composições. Assim chegamos ao nome atitude punk.

137: Ter "vol.1" no nome, implica que a mixtape equivale a um álbum duplo? Como vai ser esse formato?

Nanda: Isto. Acabou que fizemos 14 músicas nesse processo de pré-produção do álbum. Escolhemos as músicas que mais fizeram sentido para o trio, as que mais trabalhamos juntas. Mas ainda assim não conseguimos financiar um álbum de 10 faixas por exemplo. o Vol.1 vai conter 7 faixas. O Vol.2 virá mais com um formato de faixas bônus, ou seja poucas faixas, pra gente poder dar um enfoque em material visual também.
Ainda somos uma banda independente, então tudo custa muito caro, os processos ficam demorados, e a gente acaba precisando fazer escolhas e tomar decisões que façam sentido não só pra gente, mas também pro nosso público e pro mercado musical.

137: Esse segundo volume ainda vai ser produzido então? Tem alguma previsão?

Nanda: As músicas estão prontas, mas vão precisar ser regravadas. Vai trazer a nova fase da demonia. Vai funcionar como uma transição, sabe.


Formação power trio: Karla, Nanda e Quel (2020-2024)
Foto por Cynthia Campos


137: Como vai ser a divulgação das mixtapes, já que a banda se dissolveu, e qual o futuro da da Demonia depois disso?

Nanda: A demonia não se dissolveu exatamente. As meninas foram saindo da banda por não fazer mais sentido pra elas. Mas a gente já vem com uma equipe de produção e outras pessoas ao redor que têm dado suporte há algum tempo. Ja estávamos tocando com Anny, da banda "Uma Sra Limonada" no baixo, antes de Karla propriamente sair da banda, pois ela já não tava mais podendo tocar por questão de saúde. Vamos fazer um último show de despedida de Quel em abril, e após isso uma nova baterista vai entrar na banda pra somar também. Anny está oficialmente na banda como integrante, confiamos mto no trabalho dela. E a partir disso vamos ver o que é viável ou não. Mas o plano é no segundo semestre fazer uma turnê do álbum.

137: Então a estreia da nova formação vai vir com o volume 2, né?

Nanda: Exatamentxi! 
No vol.1 a gente decidiu colocar as músicas que mais trabalhamos juntas na antiga formação.

137: E sobre você, o que te motiva a continuar com o projeto?

Nanda: Então, são muitas coisas na real. Desde mais nova eu tinha o sonho de ter uma banda só de mina, tentava e tentava montar mas nunca saía do papel. Até que a demonia apareceu na minha vida, e além de ser a realização de um sonho, foi um coletivo que me acompanhou na transições de adolescente pra adulta, numa fase bem conturbada da minha vida. Quando entrei na banda minha mãe tinha acabado de falecer de um câncer e eu tinha acabado de fazer 18 anos. Então desde o começo as meninas foram muito acolhedoras, e cruciais pra que eu conseguisse ali ter um apoio real pra passar por muita coisa. Karina foi a pessoa que me aconselhou a fazer terapia, hhahwha, e estou com essa terapeuta há quase 6 anos. foi realmente um giro de chave pra minha saúde mental. Além de toda essa consideração que tenho pela nossa história, o fato da banda em si trazer o movimento de contra cultura e retomada, carregando a essência do punk do rock, da resistência, da inspiração pra quem se identifica com nossa mensagem, a importância disso pra mim é imensurável. 
Eu trabalho com música, sou produtora musical e vivo a arte, vivo a música. Respiro isso. Nunca fui de aceitar as normas, sempre questionei muito o mundo em que a gente vive, e cada dia mais aprendo sobre isso, me conhecendo e entendendo meu entorno, procurando outras cosmovisões, que nao esse enlatado e mastigado que a gente recebe. Ainda tenho muito a falar com a Demonia, cada show, cada música, cada letra é uma sementinha pra gente ir semeando e criando raízes. Que dessa forma outras pessoas possam se inspirar, florescer, se questionarem, questionarem o mundo, e criar esse afeto também de procurar se aceitar, continuar em movimento, apesar de tanta coisa ruim, tanta violencia. Pra mim continuar a demonia é continuar viva. E que fiquemos vivas e juntas, como diz Brisa Flow.


Nanda (fotos por Cynthia Campos)


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: Voltando a falar de tu, tem outros projetos, além da Demonia, que tu pretende levar a frente?

Nanda: Tenho meu projeto como beatmaker e dj, onde mesclo influencias de rap, eletrônico, brega, bregadeira. Um projeto que faço parte também e coloco muita fé é na Ale Du Black, uma rapper muito incrível lá de Areia Branca, interior do RN. Sou muito grata de ser DJ e uma das produtoras musicais dela. Recentemente lançamos uma música em parceria com MC RB KBlZ, chamada "Pikizinho do KBLZ", que é uma mistura de bregadeira com trap muito chique, onde tive oportunidade de produzir o beat, participar da composição da letra, e ainda mixar e masterizar a track, literalmente colocando em prática todos conhecimento de produção musical que adquiri nos últimos anos. Inclusiiiive, no attdpnk vol. 2 vai ter um feat com a Ale Du Black que tá incrível!!!

137: Tem mais algumas surpresas que pode revelar?

Nanda: A nova integrante da Demonia vai ser Vitória Bessa, da banda Hell Lotus.

137: Ela vai tocar o mesmo instrumento?

Nanda: Vai tocar bateria. Ela também é produtora musical, então vai chegar em todas as partes, mas o instrumento principal será a bateria.


Formação atual: Anny, Vitória e Nanda
Foto de Auana Câmara



Nota: Entre a data desta conversa e a publicação da entrevista, Nanda também entrou para a nova formação da banda HUMA como bateirista.

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