ENTREVISTA COLETIVA | Blogs #01



Olá! Se você está aqui lendo este post, possivelmente é um leitor de blogs, assim como eu. E se você, assim como eu, não só lê blogs, mas também escreve um blog, deve ter curiosidade em saber como outros blogs sobrevivem, onde dormem, do que se alimentam... E aqui está sua oportunidade. Nesta primeira entrevista coletiva, alguns blogueiros nos deram a honra de compartilhar conosco um pouquinho da sua experiência pela blogosfera. Vamos começar?



  • Olá, tudo bem? Quem é você?

Olá, tudo joia, eu sou a Michelle Ramos, roteirista de historias em Quadrinhos.

Oi! Sou Priscilla Binato, 22 anos, carioca da gema!

Eu sou Anne Caroline Quiangala, editora do blog Preta, Nerd & Burning Hell.

Guilherme Marconi, 25 anos, ilustrador, animador, fanboy do Batman e CEO fundador do site Torre de Vigilância. Ufa!

Oi oi oi! Eu sou a Soraya Coelho, Primeira de Seu Nome, Filha de Socorro "A Fada", Nascida no Agreste, Criança Outonal da Corte Seelie.

  •  Você tem um blog? Que legal! Como se chama e do que se trata?

Michelle: Sim, tenho, é o Zine Brasil, um blog/site especializado na divulgação e valorização do Quadrinho Brasileiro.

Priscilla: Escrevo no CoisasDesiguais.

Anne: O Preta, Nerd (como abreviamos) é um blog sobre nerdiandade feminista e Negra, ou seja, trata de cultura pop a partir duma perspectiva teórica e política tributária do Feminismo Negro.


Guilherme: Torre de Vigilância! Trata-se de um site de entretenimento voltado para o público nerd, mas também para os fãs de cultura pop em geral.


Soraya: Pois é, rapaz! Caí nessa cilada! Ele se chama Literatividade e tem dois grandes focos: discutir Literatura sob o viés da inclusão e da representatividade; e divulgar obras literárias, especificamente de autores independentes - uma opção pessoal, já que a blogosfera já tem espaço o suficiente para divulgar livros de grandes editoras, mas pouquíssimos lugares que falem sobre livros indies. 

  • O que te levou a querer ter um blog, e como ele surgiu?

Michelle: A falta de sites ou blogs dedicados exclusivamente ao apoio ao quadrinho nacional, surgiu da vontade de divulgar os meus próprios projetos e de amigos.

 Priscilla: Eu decidi abrir o blog, basicamente, porque eu sempre gostei de escrever e queria ter um lugar fixo para colocar os meus textos. Eventualmente, comecei ele como um projeto mais sério e aí ele ficou menos como um arquivo de textos e mais como um blog mesmo.


Anne: O blog surgiu de uma angústia em relação à falta de análises que abordassem a cultura de massa desde um ponto de vista antirracista - ao menos em português. Durante muito tempo, a falta de referências de pessoas negras nerdes fez com que a minha identidade parecesse uma experiência isolada, aliás, fantasmagórica. Por um lado, era muito real para mim a narrativa sobre a infância marcada pela estranheza devido ao gosto por videogames, quadrinhos etc, somada às experiências de racismo e sexismo; por outro, eu não encontrava imagens de profissionais ou personagens com quem pudesse me identificar realmente. A tomada de consciência intensificou a busca por um conteúdo mais analítico e menos hegemônico, mas foi exatamente quando conheci o Black Girl Nerds, criado pela Jamie Broadnax, que delineei um conceito de blog que agregasse as várias porções identitárias (feminista, negra, nerd, acadêmica, ativista) que compõem um olhar específico. A ideia se concretizou quando ingressei no mestrado, o que significou um processo de adequação de dois universos que, na maior parte das vezes, evitam dialogar.


Guilherme: A necessidade do site veio por acaso. Com o crescimento inesperado da página no Facebook, vimos que podíamos fazer algo maior e mais ''profissional'' por assim dizer. Assim surgiu o site.

Soraya: Eu já tive diversos blogs - todos mortos a essa altura das coisas. Também sou colunista em dois sites - o Leitor Cabuloso e o Indievisível - mas sentia vontade de falar sobre assuntos específicos, que não cabiam na roupagem das colunas que mantenho nesses lugares. Junto disso, conheci o Clube de Autores de Fantasia - um espaço que reúne alguns dos melhores autores indie brasileiros que já conheci. Daí decidi criar o Literatividade.

  • Como foi no começo?

Michelle: Difícil, mas recompensador, pois apesar das dificuldades de acesso na época, ainda em 2005, foi rapidamente abraçado pelos artistas independentes.

 Priscilla: No começo foi legal, eu acho.

Anne: A princípio, a grande questão foi a delimitação dum público-alvo, pois eu sequer pertencia a um grupo de amizades configurado como Preta, Nerd & Burning Hell. No primeiro dia a página do facebook teve cerca de 100 curtidas, então o blog me pareceu algo necessário pra além de mim mesma.

Guilherme: Inesperado. Nunca imaginaríamos que algo que começou como uma brincadeira fosse virar um site. As pessoas compraram a ideia e aí estamos, com menos de 1 ano em órbita, já demos até palestra.

Soraya: Na verdade, ainda estou no começo. É complicado de qualquer forma - principalmente para manter uma rotina de postagens. Meu cotidiano é bem turbulento, então as postagens no blog acabam ficando esporádicas de vez em quando.

  • Já pensou em largar?

Michelle: Sim, quando precisei passar muito tempo sem poder atualizar o mesmo. Mas desisti de desistir e estamos até hoje. rsrsrs

Priscilla: Como eu sempre fiz o blog mais para mim mesma, nunca tive dúvidas entre continuar ou não. Postava quando queria, não postava quando não queria.

Anne: No final dos primeiros semestres eu me perguntava se valia a pena, se eu deveria mesmo continuar gerando conteúdo já que precisava gerenciar tudo sozinha e não conseguia formar uma equipe.

Guilherme: Nunca!

Soraya: Já sim. Penso todos os dias. Mas olho pra ele, ele me olha de volta com olhinhos pidões, daí desisto.

  • Quais são as maiores dificuldades?

Michelle: A manutenção dos materiais de trabalho, gastos e etc, de resto é um prazer produzir conteúdo pro Zine Brasil.

Priscilla: Minhas maiores dificuldades atualmente são os meus problemas de autoestima que fazem com que eu ache que a falta de engajamento da página do blog é pelo conteúdo ser uma droga. Meu namorado sempre diz que isso é culpa do algoritmo do facebook, mas minha cabeça discorda, rs.

Anne: Lidar com haters é uma das dificuldades (aliás, a maior), simplesmente porque são indivíduos que desconhecem o diálogo como método; além disso, há a corrida contra o tempo, para gerar conteúdo relevante, de qualidade e com regularidade - tudo isso aprendemos a lidar à medida que praticamos.

Guilherme: Eu não diria dificuldade, mas sim um desafio. O nosso público é bem exigente, então nos policiamos sempre a produzir algo de qualidade. Se houver uma vírgula fora do lugar, então está errado. Essa é nossa política.

Soraya: Ter tempo para criar uma rotina frequente de postagens. Sou uma pessoa ansiosa, então ver o blog há tanto tempo sem qualquer artigo novo me deixa muito angustiada e culpada.

  • Então o que te faz continuar?

Michelle: Primeiro por que gosto do que faço, e depois é saber que ele traz apoio, e representação para os artistas independentes.

Guilherme: O envolvimento da equipe e dos nossos apoiadores é essencial. A galera tem garra e vontade de produzir algo legal, então meio que te estimula a fazer algo equivalente. Atualmente, contamos com cerca de 15 colaboradores e temos orgulho de ser um dos poucos veículos que funcionam 24hs por dia, afinal, somos a Torre de Vigilância.

Soraya: Penso em todos os livros indie maravilhosos que li e quero compartilhar com o mundo e no quanto ainda precisamos discutir representatividade na Literatura. Mesmo um espaço pequeno como o Literatividade é melhor que nada.

  • Qual a pior coisa que o blog já enfrentou?

Michelle: Como falei, foi ficar um tempo sem poder ser atualizado devido a problemas técnicos de meus materiais de trabalho.

Guilherme: Algumas quedas do servidor, nada de grave.

Soraya: Por enquanto não enfrentei nada muito drástico. Talvez o que mais me chateie é perceber que as pessoas estão mais interessadas em detonar o teu trabalho com críticas vazias e comentários estúpidos do que em ajudar a divulgar. Quando anunciaram o Idris Elba como o ator que faria o papel do protagonista de A Torre Negra, fiz um artigo falando sobre como isso era ótimo e não afetava em nada a história. Embasei todos os meus argumentos com detalhes da própria história (que é, de longe, a minha preferida e mais amada) mas as únicas pessoas que comentaram apenas falaram sobre o quanto eu estava errada. Engraçado que o único argumento deles era que "um Roland negro ia mudar a história inteira" mas nenhum soube me explicar como.

  • Como você atrai leitores? Como funciona a divulgação do blog?

Michelle: Acredito que apresentando conteúdos relevantes e do interesse do mesmo. Estamos em quase todas as redes sociais, como twitter, instagram e a página no Facebook.

 Priscilla: Eu não sei exatamente como eu atraio leitores, rs. Uso tags, tento incorporar algum SEO nos meus posts e trazer um conteúdo interessante para a página. Mas como não consigo um engajamento, então é complicado fazer cálculo de métricas e afins.

Anne: Hoje em dia, buscamos (a equipe: Camila Cerdeira, Gabi Costa, Gleice Pamplona, Kami Jacoub, Lucas Pamplona e Tatiana Nunes) oferecemos ao público um conteúdo específico (nem sempre acompanhamos hype) que são análises profundas como gostaríamos de encontrar, análises essas que privilegiam o background, o lugar de fala, o estilo e o modo como cada uma de nós compreende o objeto. A estrutura de divulgação se dá pelo feed das redes sociais como o facebook, instagram (@pretanerdburning) e twitter (@pretaenerd) o que também nos possibilita modos distintos de interação com o público. Existe uma regularidade de acessos dum público majoritário em busca referências/identificação e de pessoas interessadas em rever privilégios e desnaturalizar atitudes e discursos.

Guilherme: A maior parte da divulgação é pelas redes sociais. As pessoas compram sua ideia, compartilham e interagem com suas matérias, e aí a mágica acontece. Nunca investimos em publicidade paga até hoje. A melhor publicidade é o boca a boca.

Soraya: Eu divulgo na minha página pessoal, no twitter e entre amigos. Às vezes, com artigos que acho mais parrudos, uso os anúncios do Facebook para atrair mais pessoas dentro do perfil do blog.

  • Como manter esses leitores? Como é a relação com o público?

Michelle: Mantendo fidelidade em suas propostas e projetos, é preciso tempo, temos um bom tempo de estrada produzindo, então isso gera confiança no leitor, a relação com o publico é muito boa, sou aberta ao dialogo sem problema nenhum, aceitando dicas e sugestões sem problema.

Anne: Manter o público tem a ver com a dinamização de assuntos e regularidade, além do diálogo e recepção dos feedbacks. A nossa relação com o público é de proximidade, respondemos as mensagens e comentários o mais rápido e atenciosamente possível, o que é muito gratificante. O diálogo revela a intenção real do blog que é ser um espaço de argumentação/discussão de ideias.

Guilherme: Nossa relação é bem estreita com os seguidores, tanto no site quanto na página. Busco sempre responder as dúvidas que chegam por e-mail ou Facebook da forma mais clara possível. Manter o ambiente acolhedor.

Soraya: Eu tento ser o mais acessível possível. Me baseio nos blogueiros que admiro e em como eles se comportam com o público.

  • Que dica você daria para quem está começando?

Michelle: Não desista nas primeiras dificuldades, e seja fiel ao que se propôs a fazer.

Priscilla: Pra quem está começando, eu diria que é preciso bastante garra para continuar blogando. O mundo todo vai te dizer para parar, mas só você sabe quando parar.

Anne: Comecei a lidar com blog no começo dos anos 2000 e acho interessante o dinamismo que atravessa essa mídia; hoje em dia acredito que quem começa deve ter em mente o tipo de conteúdo que deseja criar e que pesquisa é essencial; a internet está cheia de canais e o seu deve ter algo que acrescente. Para isso é importante pesquisar, estudar, além de exercitar a escrita ao máximo.

Guilherme: Paciência, e acima de tudo tentar produzir algo de qualidade. Como consumidor do meio, sei como é frustrante clicar em uma matéria e descobrir que o título era algo exagerado ou mentiroso, ou até mesmo com informações erradas. Foque na qualidade, os cliques virão com o tempo.

Soraya: 1. Deixe alguns artigos prontos de antemão para garantir que terá conteúdo nas épocas em que for complicado escrever e 2. Crie uma estrutura limpa para o seu blog. De preferência, que dê pra ler facilmente em celulares.

  • Afinal, pra que ter um blog?

Michelle: Para falar do que você gosta, se não gosta de conversar, escrever e bater papo não adianta criar um, tem que manter o projeto vivo.

Anne: Acredito que pessoas têm blog por razões diferentes e muito legítimas; para mim, tem a ver com compartilhar e dialogar, além de construir um ponto de encontro para pessoas negras nerds que não se sentem contempladas ou que são vitimadas na maioria dos espaços geek/nerd.

Guilherme: - - -

Soraya: Descobri que, por menos que a gente acredite, existem pessoas interessadas no que você tem a falar. Então, põe pra fora! É incrível o quanto você pode aprender quando compartilha o que pensa sobre os assuntos do teu interesse.

  • O que tem no seu blog, e o que você deseja acrescentar?

Michelle: Tem noticias, entrevistas, tirinhas, e alguns quadrinhos, aos poucos pretendo adicionar mais novidades, eu queria adicionar publicações e novidades em vídeos, e agora ele já tem que é o Zine Brasil no Youtube, breve teremos mais novidades, aos pouco vamos fazendo.

 Priscilla: No meu blog tem resenhas, contos e desabafos, mas eu queria tentar acrescentar mais posts sobre música, sobre livros e talvez algum conteúdo de LGBT+, o que tenho muita dificuldade de escrever. 

Anne: O Preta, Nerd tem discussões variadas que consideramos um ponto forte e, esse ano, desejamos ampliar os canais/formas de transmitir conteúdo.

Guilherme: Talvez focar um pouco mais em conteúdo para o Youtube. Temos alguns projetos engavetados aqui mas por falta de tempo acabamos deixando de lado. Mas é algo que tenho muita vontade em tocar pra frente.

Soraya: No momento, ele está no formato que eu gostaria. Acho que preciso de um logo bonitinho (o meu está muito parecido com o do querido Homo Literatus). Mas, por enquanto, está de bom tamanho para um blog recém-nascido.
 
  • Se o mundo acabasse amanhã, qual seria seu ultimo post?

Michelle: Que Deus em sua infinita graça abençoe e salve você e sua família, eu estarei aqui abraçada com a minha, faça o mesmo!

Priscilla: Se o mundo acabasse amanhã, meu último post iria ser sobre regras.

Anne: Tenho um caderno com esboços mil, mas se o mundo acabasse amanhã, provavelmente entrevistaria a Afua Richardson e/ou a Tamar Kali!

Guilherme: Provavelmente algum sobre o Batman.

Soraya: Se eu soubesse que o mundo ia acabar, provavelmente alguma coisa sobre Maza, Dotha e as ressonâncias literárias sobre o conceito de vida. (Pra entender esses dois terminhos, leiam 1Q84 do Haruki Murakami. Me agradeçam depois).

  • Você tem outros projetos além do blog, ou pretende ter?

Michelle: Sim, escrevo Hqs e estou escrevendo também um livro, meu projeto é publica-los em breve.

Priscilla: Eu tenho o projeto do Instagram @sommelierdebolo e estou prospectando a abertura de uma empresa de mídias sociais.

Anne: Faço parte do coletivo de quadrinhos independentes Café Nanquim, especificamente da revista Almanaque Gótico.

Guilherme: Atualmente estamos estruturando nossa loja virtual no site, com estampas próprias.
Sabe aquelas coisas legais que você nunca vê aqui no Brasil? Então... É só isso que posso revelar por enquanto.

Soraya: Não. Por enquanto, os projetos que estou tocando são o bastante pra mim.

  • Quais outros blogs você indica?

Michelle: O “Código 137” claro, de um rapaz super bacaninha chamado Magdiel Araujo, o "Do Meu Mundo ao seu Mundo”, da amiga Renata Vasconcelos, o “Qualquer Coisa LTDA” do Deco Neves, e o Sre Sra B. Gente finíssima daqui de Pernambuco que tive o prazer de conhecer recentemente e que estão fazendo um belo trabalho.

 Priscilla: Indico sempre o Mareska Who?, De Tênis e Gravata e a Revista Pólen

Guilherme: Conheço alguns muito bons, como o www.torredevigilancia.com

Soraya: Visitem o Leitor Cabuloso, o Xícara de Liberdade, o Homo Literatus, o Pequenos Deuses e o Indivisível. Sério! Visitem agora!

  • Por ultimo, Porque devemos acessar seu blog?

Michelle: Porque se você curte Quadrinho Brasileiro, o Zine Brasil é o seu lugar.

Priscilla: Bom, eu acho que as pessoas deveriam ler o meu blog porque eu acredito que sou uma pessoa legal que tem opiniões legais. Em um mundo de tantas opiniões bosta é sempre bom ler umas legais, né?

Anne: O Preta, Nerd & Burning Hell é recomendado para pessoas que problematizam status quo, se emocionam ao ouvir o tema de Top Gear e discordam veementemente da arte-pela-arte.

Guilherme: Ora, em qual outro site você encontraria Cultura Nerd, Quadrinhos e um pouco de Justiça?

Soraya: Porque eu sou legal e vou ficar muito feliz se vocês dessem uma passadinha por lá. E porque, aos pouquinhos, ele vai estar cheio de dicas bacanas de livros que você nunca imaginou ler e repleto de artigos que abrirão os horizontes da sua cabeça.

  • Muito obrigado. Até a próxima!

Michelle: Por nada meu querido! Sucesso!

Anne: Obrigada! Até mais

Guilherme: Eu que agradeço!




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