EDITORA USA I.A. EM CAPA, E GERA I.A. PARA NEGAR
A editora Estação Liberdade anunciou o lançamento do aguardado livro Kitchen, de Banana Yoshimoto. Na publicação de anuncio, ilustradores e designers indentificaram que a capa foi feita usando inteligência artificial. A editora porém, negou o uso, e publicou um suposto processo de criação, que também foi identificado como gerado em inteligência artificial. Entenda toda a história a seguir.
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Banana Yoshimoto |
Banana Yoshimoto é uma cultuada autora japonesa, conhecida por suas obras de drama, publicadas no mundo todo. A escrita de Yoshimoto traz temas sérios com muita delicadesa e até contemplação. Mas embora a autora fosse muito bem quista ao redor do mundo, no Brasil seus livros foram publicados de forma escassa, o que não tornou a autora conhecida por aqui.
Até que a editora Estação Liberdade surgiu. A proposta da empresa é preencher o vácuo que temos de publicação de autores asiáticos no Brasil. Com isso a editora conquistou o coração dos fãs de literatura japonesa, coreana, e afins, e logo se tornou referência, publicando dentre vários pedidos e celebrados, a autora Banana Yoshimoto.
Voltando a escritora, no início desse ano ela e seus fãs japoneses sofreram um golpe. Criminosos puseram na Amazon, livros falsos a venda, com o nome de vários autores renomados, incluindo Yoshimoto. Leia mais sobre aqui: https://portalmie.com/atualidade/2025/02/falsas-obras-criadas-por-ia-de-escritores-renomados-levantam-preocupacao-no-japao/
Porém não seria a primeira vez que usurários de inteligência artificial generativa prejudicariam seu trabalho.
Seu livro mais famoso, Kitchen, por muito tempo era pedido pelos fãs brasileiros. A espera era tanta, que artistas incríveis desenvolveram por conta própría, lindos projetos gráficos para ele. A editora que o trouxesse, já teria tudo pronto. Confira esses trabalhos incríveis feitos por Purin Naka e Jessica Goulart:
Então chegamos em 8 de abril de 2025, e a editora Estação Liberdade anuncia Kitchen em sua página no instagram, com a seguinte capa:
Por risco de que a editora apague ou arquive as publicações. irei por prints delas aqui.
A publicação original se encontra neste link: https://www.instagram.com/p/DIMNSaAOk6A/
O post tráz o anuncio com a sinopse, o link do site da editora, e o nome de três tradutores, mas não informam quem fez a capa. Logo, diversos artistas, designers, ilustradores e trabalhadores do meio gráfico, perceberam que a capa foi ilustrada com imagens geradas por inteligência artificial. Inicialmente, para não gerar acusações, os comentários eram de "quem fez a capa?". Mas além de falta e respostas, os comentários eram ignorados, e editora só curtia os que elogiavam. Então a revolta e indignação chegou, e os comentários acusando o uso de I.A. cresceram.
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Print da publicação original |
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Print dos comentários iniciais |
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Print com demais comentários |
Após a publicação ser inundada por comentários como os mostrados acima, o editor finalmente postou um texto resposta. Não como publicação, não como comentário único, mas sim, com um comentário respondendo outro dos diversos comentários. Pouca gente viu, por estar quase escondido, mas o comentário dizia o seguinte:
"Agradecemos todos os comentários, positivos e negativos, sobre nossa capa para o "Kitchen". Valorizamos com toda ênfase a interação com nossa comunidade de leitores e leitoras. No caso específico da capa em questão, nosso diretor de arte Miguel vai explicará seu processo de criação. Aguardem, vocês verão que a "acusação" de uso de IA foi um pouco genérica, qualquer recurso a banco de dados já se torna suspeito. De forma geral, somos terminantemente contra o uso de IA no processo editorial. Para informação, mais e mais os contratos de licença com as editoras originais vetam expressamente o uso de IA para traduções, copidesque, capas e assim por diante (ass. o editor)."Postado por Angel Bojadsen (@angelbojadsen).
Ainda nos comentários desse tópico, muitos apontaram que o diretor de arte, "Miguel", já havia usado I.A. antes, na Estação Liberdade, e que em seu linkedim, dizia que ele trabalhava com Inteligência Artificial. Além disso, detectores online de I.A. já entregavam que a capa foi feita com inteligência artificial. Confira abaixo:
Link do linkedin do diretor de arte Miguel Simon: https://www.linkedin.com/in/miguelsimon/?original_referer=https%3A%2F%2Fwww%2Egoogle%2Ecom%2F&originalSubdomain=br
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Linkedin do diretor de arte |
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Detector de I.A. https://dashboard.sightengine.com//ai-image-detection |
Mas então como prometido pelo editor, o perfil no instagram da Estação Liberdade publicou o tão aguardado processo de criação da capa. O post foi feito dia 10 de abril, e está nesse link, caso não tenha sido deletado: https://www.instagram.com/p/DIRpU-Hv2ZD/.
O post é um carrossel com a imagem da capa, possíveis referências, um print do salvamento de arquivo do projeto, e um vídeo time-lapse. Na descrição, que continuava nos comentários, diz o seguinte:
"Criação da capa "Kitchen""Fiquei pensando em como explicar de forma resumida e fácil um processo tão intrincado quanto a criação de uma imagem, e por que meu método de trabalho valoriza a pesquisa e a conexão de pontos soltos.Ontem à noite, lembrei do meu início nas artes gráficas. Em 1984, trabalhei com Tide Hellmeister, um diretor de arte que também era artista plástico e ilustrador. Ele fazia muitos trabalhos de colagem para a "Folha de S.Paulo", utilizando elementos variados para criar suas obras (veja dois quadros que ganhei dele no anexo). Muito do meu trabalho hoje vem dessa influência. No design, assim como nas artes gráficas, a pesquisa e o esforço de ligar os pontos são fundamentais.Um resumo do processo de criação no Photoshop:Depois de muita pesquisa e análise de referências visuais, as ideias começam a surgir. Fazemos esboços rápidos, pensando em cores, formas e imagens que representem a história. É como um brainstorm visual, onde jogamos várias ideias no papel ou na tela.Quando escolhemos a ideia principal, desenvolvemos um esboço mais detalhado para visualizar a composição da capa. Só então o Photoshop entra em cena para transformar esses conceitos em algo concreto.No Photoshop, o processo funciona assim:Preparação da tela: Criamos um arquivo nas dimensões e resolução adequadas.Importação de imagens: Inserimos fotos ou desenhos escolhidos para a capa.Organização em camadas: Cada elemento (pessoas, objetos, fundo) é colocado em camadas separadas para facilitar ajustes.Recorte e montagem: Usamos ferramentas para ajustar as imagens, recortando ou combinando-as.Harmonização visual: Ajustamos cores, luzes e sombras para integrar todos os elementos.Adição de efeitos: Criamos texturas, desfoques ou realces, conforme necessário.Refinamento: Revisamos cada detalhe até atingir o resultado desejado.Após apresentar a capa para avaliação, incorporamos eventuais ajustes até a aprovação final.Em resumo, o Photoshop é uma ferramenta poderosa que une criatividade e técnica, transformando ideias em imagens impactantes que capturam a essência do livro.Continua..."
E o comentário continuando:
"Nas imagem do "Dump" é possível ver a da chaleira e como ela foi se transformando, partindo das referências até chegar a uma versão única, talvez inexistente ou desconhecida na realidade." Ass: Miguel Simon, diretor de arte."



Acima estão prints da publicação, sua legenda, as imagens do carrossel e o vídeo, que que vem por ultimo.
Os comentários na publicaçõa foram de ainda mais revolta. Porém vale ressaltar vários que explicam o motivo do processo ser falso, e do uso de I.A. generativa não ser correto.
Após essa publicação e até a data que escrevo este texto (29/04), a editora Estação Liberdade não mais se manifestou sobre o assunto.
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