QUADRINHOS | SANGUE E COCÔ

Por Kellen Carvalho (@Velha.Cosmo)




Quando Dalí apresentou o quadro “Jogo lúgubre” para o grupo surrealista, foi censurado por ter um cara todo cagado. Em sua autobiografia, Dalí conta que já tinha feito outras pinturas com sangue e não houve problemas. Puto, questiona as diretrizes sanitárias do grupo: “por que sangue pode e cocô não?”

Em “Esgoto Carcerário”, de Emily Bonna, quadrinho publicado (2019) pela Escória Comix, veremos sangue e cocô juntos!

A personagem Alzira Morcegona (pessoa física, Alzira Medeiros Polegar) sequestra Febrônio, Valério e Cleonisse de um manicômio e, com ajuda de seu assistente Mariano (um rato de esgoto), mantém suas vítimas, às quais vampiriza alimentando-se do sangue.

Me lembrou muito Irmã Vep (Musidora) da série Les Vampires (1915). Um das primeiras morcegonas da história. Essa roubava jóias, mas Alzira rouba lixo hospitalar.


Irmã Vep

No lixão do Hospital Nuvem Caracol, se encontra do melhor, um comércio vibrante entre curativos usados com gangrena e seringas, tudo fresco. O povo se vira.

A gênese de Alzira é contada pelos próprios ambulantes, há boatos de que ela era atriz de filmes Snuff mas rolou uma proposta de atuar como morcego, tudo no realismo característico das produções Snuff.

Mas para toda vilã, um herói: Nico Pinico, um vaso de planta que é usada de pinico por Filolau, um velho cagão. Nico assiste na TV o caso do sequestro, onde é anunciada uma recompensa de 25 centavos para quem encontrasse as vítimas. É sua grande chance de resgatar sua dignidade e se livrar da vida de merda que leva.

Esse doce garoto de fragrância floral adubada ruma para sua jornada do herói.

Ao som de Bauhaus, a tragédia ambientada nos esgotos da cidade é uma das leituras preferidas da VELHA.

Sobre a autora: Emily Bonna desenha e conta histórias de desajustados, em geral, e doentes em estado terminal. É autora de outras publicações, como Bufa-Gunfa (em parceria com Vitor Bello), Chalabala, entre outras.



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